DIGO OS VIRGENS OFENDIDOS, DIGO OS DONZÉIS OFENDIDOS DO BLOG BARNABÉ
LII
Outras novas.
- Esta cabra da Ana Luísa Guerra teve a lata de me escrever a lamentar a sua, diz ela, injusta situação! – exclamou Filipa. Vê lá que matou à facada aquela amigalhaça, a Susana de Mello, e agora está a justificar-se!
-Que diz ela? – perguntou Alfredo, enquanto pesquisava o mapa das estradas.
- Diz que a gaja que ela matou era uma terrorista!
- Porquê?
- Por andar a foder com o pai dela!
- Terrorismo sexual? Ela fazia-lhe o quê?
- O habitual, as três modalidades, V.A.O., sabes o que significa ou não? Não me digas que nem sequer sabes o que andas a fazer? Quando te alimentas bem até fazes os trabalhos bem feitos!
- Claro que sei, só que a ordem deve O.V.A.!
- A assassina diz que fez um ataque preventivo. Ainda por cima diz que ficou com dores na mão direita do esforço que fez para dar as facadas à outra!
- Se fosse a tiro não tinha dado tanto trabalho!
- a melhor de todas é esta – acrescentou Filipa virando a página -, diz que que a morta quando estava viva tinha armas químicas para matar a mãe dela, como raticida «remédio» para o escaravelho da batata e herbicida!
Explica melhor.
Pões-te a olhar para o mapa como um analfabeto cartográfico e não ligas ao que eu digo. A chave do problema é que a mãe dela era muito tradicionalista e só praticava a modalidade V. com o pai dela, que ficou apaixonado pela trilogia!
- Afinal acabou por prejudicar o pai dela que andava numa boa!
-Escreveu aqui que não devia ser abrangida pelo Tribunal, que via estar imune ao Tribunal Para ajas Indelicadas, isto é, fora da alçada do TPGI.
- Este mapa é complicado.
- É o meu telemóvel que está a tocar. Dá-mo.
- Onde está? Não sei adivinhar, não acredito em bruxas.
- Procura bem.
- Já o encontrei, toma lá.
- E dizes que não acreditas em bruxaria, pois eu acredito, é o número da Ana Luísa Corte-Real.
- Atende antes que ela desligue.
- Olá minha querida, o Marquês das Oliveiras está em boa forma física?
Está óptimo.
- Quantas por dia?
- Melhor que o Alfredo!
- Estou a convidar-te para uma sessão especialíssima de swing. Traz o teu namorado que eu acho-o bem bom.
- Diz o local e a hora, que eu já tenho uma esferográfica na mão. Estou a apontar tudo em pormenor. Lá estaremos, um grande beijo.
Filipa ficou a contemplar a paisagem. Estavam junto a um lado de um caminho térreo, debaixo da copa de uma árvore, pois entre as nuvens brancas surgia potente o Sol, para a época. Do lado esquerdo do caminho viam-se dois arbustos e por detrás de um prado muito verde. Junto à primeira curva estavam trinta e quatro pinheiros muito finos e muito altos. Antes da folhagem via-se ao longe uma floresta e mais ao fundo o relevo lembrava os dentes de uma serra pintada de azul. Dali, a proximidade daqueles pinheiros fazia-os parecerem super-gigantescos. Não se viam habitações nem nenhuma pessoa. Ao fundo do prado havia uma lagoa ora prateada ora azulada, onde passeavam duas cegonhas. De repente um melro começou a saltitar e a pesquisar a terra com o seu bico amarelo.
- Filipinha eu gosto muito de ti gostava que me explicasses uma coisa muito delicada.
- Diz lá sem rodeios.
- Pronto por quais razões andas comigo?
- Por causa do Feiticeiro Aristides, ele disse-me que havia um feitiço para eu andar a fazer amor com um gajo que tivesse dois setes e não fosse barrigudo!
- Não estou a entender!
- E acrescentou que eu tinha de gostar dele. É o teu caso, não és barrigudo e medes um metro e setenta e sete centímetros.
- Agora já compreendo.
- Ih! Olha para o prado verde, está lá um veado com uns cornos tão bonitos! Está comer erva.
- Filipinha, se eu fosse casado contigo tinha uns cornos maiores que os daquele veado!
- Podes estar descansado, eu tenho uma amiga que está a preparar um doutoramento em Direito e deu-me uma fotocópia do Estatuto dos Cornos. Passa-me a minha bolsa.
- Toma lá.
- Encontrei, cá está – E.C:, Art. 1º - Um homem só pode ter cornos se for casado.
- Ainda bem.
- É uma distinção exclusiva dos homens casados.
- Foi sempre o que eu pensei.
- Não tens nível para tão elevada distinção.
- Só mais uma pergunta, meu amor, não leves a mal, na tua família todos os teus ascendentes directos que eu conheço têm cabelo preto ou castanho-escuro e todos têm olhos escuros.
- Não precisas dizer mais nada, queres dizer que a minha mãe punha os cornos ao meu pai e nasci desses extras, não é?
- A tua mãe tem uma bela cabeleira negra e olhos castanhos muito escuros, o teu pai também tem cabelo preto e olhos escuros!
- O meu pai já me falou nisso, prefere que digam que ele é um grande cornudo a contar a verdade, que ele e a minha mãe me adoptaram, na Finlândia em. A minha mãe é estéril e adoptaram-me em Äänekoski. Tens de jurar que não dizes a ninguém. Para mim eles são meus pais e pronto. Os meus pais biológicos morreram num acidente de automóvel, em parte devido a uma tempestade de neve.
- Eu juro, embora seja por vezes mentiroso agora estou a falar verdade. Palavra de mentiroso.
- Mudando de assunto, eu não gramo aquela cabra da Ana Luísa Guerra, eu só admito que uma mulher mate alguém se for violada, é a única situação em que eu admito!
- Outra vez o teu telemóvel, Filipinha. Pega lá.
- - Foi o Marquês das Oliveiras que recebeu há minutos um telefonema do Feiticeiro Aristides a dizer que temos de ir os quatro praticar swing no Rio dos Crocodilos na Tanzânia, caso contrário a Ana Luísa Corte-Real pode tornar-se uma segunda Ana Luísa e matar uma amiga à facada!
- Acho bem, podemos partir para África logo que o Marquês queira. Sabes o Marquês das Oliveiras não é nunca, jamais supersticioso...excepto às sextas-feiras. Numa sexta-feira 13 em vez de sair de carro meteu-se na cama e teve uma aparição!
- Quem foi?
- O fantasma da sogra do Feiticeiro Aristides dizendo-lhe que ia conhecer uma mulher que poderia ser vítima de um espírito de uma viva, de um espírito mutantehomónico! Ficou aterrorizado, e agora só lhe resta o contra-feitiço, através daquele ritual tão agradável em África. Temos de colaborar.
- Claro, sem dúvida!
- O Marquês das Oliveiras acha que o maior desafio de um homem é controlar o futuro!