«Metendo no mesmo saco os atentados tanto contra objectivos civis como militares, a generalidade da imprensa fala indiferenciadamente em “terrorismo”, tanto no Iraque como na Palestina. Mas desde quando é que constitui terrorismo atacar forças militares de ocupação, no Iraque ou onde quer que seja? Será que ainda veremos condenados retroactivamente como execráveis “terroristas” os que realizaram as guerras de libertação nacional contra a ocupação militar estrangeira por esse mundo fora, desde a Argélia a Timor, desde Angola ao Vietname?» Estas palavras de Vital Moreira (in “Público” de 18/11/003, artigo de opinião) subscrevo-as inteiramente. Cito-as para quebrar esta sensação de total isolamento na Blogosfera portuguesa, dominada esmagadoramente pela direita e onde a esquerda mais visitada, ou porque está demasiado ligada sob o ponto de vista partidário ou porque a principal preocupação em relação à direita não é atacá-la frontalmente mas procurar agradar-lhe, parece ter poucas convicções de esquerda.
Os soldados italianos foram mortos em guerra, numa guerra em que o Ocidente mostra o pior de si próprio. Regressou ao imperial-colonialismo e ao pior racismo! Os iraquianos são “bichos” que devem ser mortos, nomeadamente com armas químicas como o napalm. Nem uma lágrima pelas crianças iraquianas assassinadas pelos invasores ocidentais.
O vocabulário é o do nazismo – para Hitler os partisans franceses eram “terroristas” como são para a imprensa, as rádios e televisões portuguesas os partisans iraquianos, pelas mesmas razões, porque lutam contra os invasores da sua pátria.
As lágrimas dos italianos foram, em muitos casos, lágrimas racistas. Como quando Mussolini invadiu a Etiópia, choravam-se os soldados italianos mortos e desprezavam-se os “bichos” etíopes. Agora é exactamente como no auge do fascismo mussoliniano, uma visão racista do mundo.
Berlusconi, o padrinho mais bem sucedido de toda a história da máfia italiana, aproveitou a ocasião para decretar 24 horas de ditadura, proibindo, como Mussolini, as manifestações dos dissidentes da actual política externa de matriz neofascista. Quem as fizesse seriam os “traidores”. “A pátria não se discute” – dizia Salazar. Qualquer dia teremos Durão Barroso a dizer o mesmo.
Os soldados italianos estavam todos vivos se não tivessem ido invadir e ocupar o Iraque, simplesmente.