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Anti-Direita Portuguesa

ESQUERDA NÃO PARTIDÁRIA

LIVRE-PENSADORA

terça-feira, abril 06, 2004

  • LIBERAIS?


    «ESTAIS PIOR QUE O DURÃO BARROSO, AGORA SOIS LIBERAIS?»
    «RECEBESTES ALGUM SUBSÍDIO? ANDAIS À PROCURA DE UM TACHO?»
    «As vossas ideias estão muito próximas dos ex-maoistas-ex-trotsquistas-bloguistas, só pequenas diferenças, andais sempre a dizer mal do presidente Bush!»
    Estas são algumas das mensagens que recebemos. A melhor de todas foi dirigida por uma jovem jurista neoconservadora ao nosso colaborador irregular RS, que já divulgamos.
    Para nos defendermos da acusação de ex-MRPPês convertidos a «liberais» temos que radiografar o conceito liberal.
    Na França do século XVIII liberais eram aqueles que queriam aplicar e que aplicaram as ideias iluministas de igualdade e liberdade à política, quando estavam debaixo de uma monarquia absoluta.
    O general Gomes Freire de Andrade foi um mártir do liberalismo português, enforcado pelos ‘liberais’ ingleses às ordens de Beresford!!! ‘Felizmente havia luar’, escreveu Luís de Sttau Monteiro!
    Manuel Fernandes Tomás liderou a primeira revolução liberal portuguesa que triunfou primeiro no Porto em 1820 e deu origem à primeira Constituição portuguesa, que entrou em vigor em 1822. O primeiro liberalismo português acabou em 1823.
    O liberal português mais marcante foi o rei D. Pedro IV, que outorgou a segunda constituição portuguesa a Carta Constitucional de 1826, que esteve em vigor até à implantação da República com o interregno provocado pela revolução «esquerdista» de Setembro de 1836 e pela vigência temporária da Constituição de 1838.
    A Carta Constitucional de 1826, divergindo de Montesquieu atribuía ao estado um quarto poder que era o «poder moderador» exercido pelo rei. Também divergia de Rousseau ao limitar o direito de voto a quem tivesse, pelo menos, 100 mil reis de rendimento anual. A Constituição de 1822 era mais à esquerda, seguia a norma de Montesquieu dos três poderes do Estado separados e a ideia de Rousseau de voto universal (masculino).
    Os liberais portugueses eram aqueles que o rei absolutista D. Miguel metia na cadeia por delito de opinião.
    D. Pedro IV implantou o liberalismo em Portugal, depois de ter conseguido resistir ao cerco do Porto, quando já não usava o título de rei, mas de Duque de Bragança, por ter abdicado do trono de Portugal a favor de sua filha D. Maria, com forças aparentemente inferiores às de seu irmão absolutista D.Miguel. Venceu a guerra civil de 1832-1834 e pouco depois morreu tuberculoso, em grande parte devido ao esforço físico imposto pela guerra. Não era um homem em busca da glória pessoal – liderou a independência do Brasil e abdicou do trono de imperador para poder implantar o liberalismo em Portugal, esforço que pagaria com a vida.
    Parece claro que o conceito de liberal em Portugal surge associado a ideais humanistas e ao sacrifício pessoal.
    Mais tarde com o triunfo evidente da alta burguesia o conceito liberal aparece ligado à liberdade de negociação entre empresas e assalariados, liberdade essa que favorecia, claramente, os empresários. Essa liberdade hoje poderia dar origem a este anúncio «EMPRESA ADMITE ASSALARIADO QUE ACEITE GANHAR METADE DO SALÁRIO MÍNIMO, que renuncie ao direito à greve, que trabalhe 70 horas por semana, que renuncie ao direito às férias e que aceite ser despedido sem qualquer indemnização, quando o patrão acordar mal disposto»!!!!!
    Os portugueses de hoje que se definem como liberais ou neoliberais não estão asociados aos ideais de Esquerda do alvorecer do liberalismo, mas aos ideais de Direita que defendem que o Estado proteja o menos possível os assalariados dos abusos dos empresários.
    Há ainda alguns portugueses que se autodefinem como liberais que defendem a liberdade de expressão de pensamento SEM CENSURA, mas são uma pequena minoria. Neste caso admitem a liberdade de expressão de todas as correntes de opinião, mesmo enquanto liberdade para os criticar a eles próprios.
    Há largos sectores da Direita e da Esquerda ainda agarrados à tradição da CENSURA, seja em nome da ‘responsabilidade do poder’, seja em nome da ideologia-canónica que define o que é esquerda correcta ou direita correcta, há também a Censura em nome da concorrência no mesmo espaço ideológico, há ainda a Censura do Gosto ou Censura Caprichística – a blogosfera portuguesa é riquíssima em todos os tipos de CENSURA!!!