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Anti-Direita Portuguesa

ESQUERDA NÃO PARTIDÁRIA

LIVRE-PENSADORA

quinta-feira, abril 01, 2004



  • ESQUERDA LIBERDADE E IGUALDADE – IV
    UMA IDEOLOGIA CRIADA POR ALEMÃES EXPERIMENTADA NA RÚSSIA
    Na Alemanha do século XIX Karl Marx ( 1818 -1883), universitário da classe média, fixa a sua atenção nas enormes desigualdades entre as classes altas e as classes inferiores, especialmente entre os grandes proprietários da indústria pertencentes à alta burguesia e respectivos operários. Ele conclui que o liberalismo e o capitalismo tal produziram e que é preciso inventar uma alternativa ao liberalismo-capitalismo. Considera que tal como a burguesia desalojou do poder económico a nobreza, o operariado devia desalojar a burguesia e passar a classe dominante. Através da luta de classes o operariado podia vencer a burguesia.
    Em dois livros base Marx esclarece o seu pensamento - «O Capital» e o «O Manifesto do Partido Comunista».
    O capitalista-intelectual alemão Friedrich Engels (1820- 18895) adere ao pensamento de Marx e apoia-o na elaboração do «Manifesto do Partido Comunista» e publica os Livros II e III de «O Capital» após a morte de Marx.
    Marx e Engels criticam pela base toda a religiosidade e dizem que não foi Deus que criou o Homem mas o Homem que criou Deus, isto é, inventou a ideia de Deus!
    À iniciativa privada Marx contrapõe o controlo total da economia pelo Estado que seria dominado pelo operariado.
    Sacrifica a liberdade à igualdade e propõe a «ditadura do proletariado». Karl Marx vai, frontalmente, contra Jean-Jacques Rousseau! Diz que assim será possível criar uma sociedade sem classes, sem exploradores nem explorados.
    À ideia religiosa de Paraíso depois da morte, Marx contrapõe o Paraíso do Possível na Terra.
    Marx foi mais um entre tantos filósofos alemães. Morreu na Inglaterra sem que as suas teorias fossem experimentadas, sem que sequer a sua obra chave «O Capital» tivesse sido integralmente publicada. Ao iluminismo francês foi buscar a ideia de Diderot de que a Humanidade deve acreditar na Ciência e que seria possível um «Socialismo Científico» que abriria as portas ao «Comunismo» que seria a sociedade sem classes.
    Para tentar justificar as suas ideias no plano teórico recorre ao filósofo alemão Friedrich Hegel (1770-1831) e à sua ideia de dialéctica. À intelectualidade francesa - Saint-Simon (1760-1825), Proudhon (1809-1865) e inglesa - Robert Owen (1771-1858) foi buscar a ideia de «Socialismo Utópico», que por sua vez foi procurar a ideia de utopia no livro «A Utopia» do inglês Tomás Moro (1478-1535), que imagina uma Ilha Perfeita descoberta pelo português Rafael Hitlodeu. Foi ainda buscar ideias à intelectualidade inglesa teorizadora da Economia. Digamos que o marxismo é uma ideologia saída das civilizações alemã, francesa e inglesa criada por um alemão.
    Foi o russo Lenine (1870-1924) que se lembrou de aplicar as teorias de Marx e tomou o poder no Império Russo através da revolução comunista russa de Outubro de 1917. O norte-americano John Reed escreveu que foram «os dez dias que abalaram o mundo» e abalaram mesmo a Europa e a Ásia.
    Com base na ideia de igualdade Lenine dividiu o Império Russo em repúblicas a que chamou União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Com base na ideia de Marx de «ditadura do proletariado» impôs na Rússia a ditadura da classe política comunista, que, segundo ele representava o proletariado.
    A ideia de igualdade de Lénine permitiu que um natural da Geórgia, Estáline (1879- 1953) tomasse o poder em Moscovo. Estáline foi buscar ideias a Marx, a Engels, a Lénine e à nobreza russa, isto é, ao czarismo. O estalinismo é uma mistura de marxismo-leninismo + czarismo. A ideia de czarismo remonta ao Império Romano a Júlio César ( 101- 44 AC), ao cesarismo, ideia de ditadura pessoal.
    A teria económica de Estaline baseia-se em «O Capital» de Marx e a concepção de exercício do poder nos czares da Rússia Ivan o Terrível (1530-1584) e Pedro o Grande (1672-1725). Estáline podia ser classificado de Ivan o Terrível II! O apogeu da importância política e militar de toda a história da Rússia a nível mundial foi com Estáline e com os pós-estalinistas, o ucraniano Khruchtchev (1894-1971) e o russo Brejnev. Estáline cometeu muitos crimes políticos para fortalece o poder pessoal, mandando prender e matar os seus opositores, à maneira de Ivan o Terrível, incluindo muitos membros do seu próprio partido, o Partido Comunista da URSS, o mais conhecido dos quais foi o ucraniano Trotsky (1879-1940) exilado e depois assassinado no México por ordem de Estáline!
    O PC da URSS acabou por condenar vivamente os crimes de Estaline pela voz do secretário-geral Khruchtchev!
    Khruchtchev não conseguiu inventar um regime neomarxista que pudesse conciliar igualdade, liberdade e eficiência económica.
    Quando as contradições do regime comunista da URSS eram enormes o PC escolheu Gorbatchev para modificar a situação. Deram-lhe poder quase absoluto para agir.
    Gorbatchev analisou a prática e a teoria do regime e estabeleceu como elemento de comparação a democracia francesa, produto da evolução do liberalismo francês implantado em 1789.
    Na URSS a «ditadura do proletariado» era a ditadura da classe política comunista. Na URSS não havia liberdade e na democracia francesa sim. Gorbatchev considerou ser imprescindível a liberdade.
    Quanto à igualdade nem na democracia francesa nem no comunismo russo, nem em lado nenhum, considerando o aspecto financeiro dos cidadãos e das famílias – parece inalcançável!
    Quanto à eficiência económica Gorbatchev concluiu que a eficiência era muito maior em França que na URSS. Chegou à conclusão que as teorias de Marx em «O Capital» estavam erradas, porque não resistiram ao teste da experiência.
    Quanto aos direitos sociais Gorbatchev verificou que o capitalismo alemão, francês e inglês não é o capitalismo selvagem do tempo em que Marx viveu! A alta burguesia desde que Marx morreu fez muitas concessões ao operariado – direito à greve, horário de trabalho, férias pagas. O Estado assumiu determinadas responsabilidades no ensino, na assistência médica e nas pensões de reforma, que embora muito contestadas pela alta burguesia vão resistindo. Na URSS havia assistência médica gratuita, ensino gratuito incluindo o universitário, habitação a baixo custo e praticamente ausência de desemprego. No entanto havia grande escassez de bens de consumo e embora as desigualdade fossem menores que na França o nível de vida médio da população era muito inferior ao da França capitalista e para haver emprego para todos eram colocadas em algumas empresas estatais da URSS mais pessoas a trabalhar que as necessárias, o que a médio e a longo prazo era desastroso para a economia, pois o trabalho das pessoas a mais na empresa acabava por ser um trabalho inútil para o país.
    Nos países capitalistas mais desenvolvidos em que os assalariados têm mais direitos não se discute a desigualdade, ela é considerada uma fatalidade da condição humana, logo insuperável, mas sim os direitos e garantias dos que estão na base e no meio da pirâmide social. Os que estão no alto, estão acima dos outros porque se considera que tem mesmo que ser assim – só as doenças graves e a morte lhes mostram que não são seres superiores.
    Gorbatchev fez implodir o regime comunista russo. Os abalos dessa implosão fizeram com que ela a certa altura fosse descontrolada. Os russos das classes mais baixas viviam mal no regime comunista – agora vivem muito pior, até porque vivem muito pior morrem mais cedo, a esperança de vida diminuiu, mas a solução para os seus problemas passa sempre por conciliar liberdade e igualdade. Ninguém quer perder a liberdade – há que inventar novas coisas.
    Do regime comunista russo o que ficou de durável foram as fronteiras das repúblicas que formaram a antiga URSS.
    As elites russas desorientaram-se e esqueceram-se da concorrência internacional. Agora a Rússia é um país cercado por forças militares hostis que já entraram nas antigas repúblicas da URSS. Para além da queda do regime comunista russo houve um colapso da nação russa que tem os inimigos militares às portas – quanto mais os norte-americanos cercam a Rússia, mais dizem que são seus amigos!
    Os inimigos da I Guerra Mundial eram quase todos cristãos e todos capitalistas! A concorrência internacional não se baseia em semelhanças ideológicas, mas em interesses nacionais. As elites russas actuais parece que ainda não perceberam o que é o interesse nacional russo.
    A ideologia comunista, tal como foi experimentada na Rússia, sacrificou a ideia de liberdade à ideia de igualdade que nunca foi conseguida – nem liberdade, nem igualdade! Esta experiência foi um fracasso, muito para além dos desvios czaristas estilo Ivan o Terrível de Estaline!
    O futuro não se adivinha, mas só poderá haver justiça social respeitando sempre a ideia de liberdade e a ideia de igualdade.