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Anti-Direita Portuguesa

ESQUERDA NÃO PARTIDÁRIA

LIVRE-PENSADORA

segunda-feira, setembro 29, 2003

  • REVIVER O PASSADO EM COIMBRA

    Ao som de “satisfaction” dos Rolling Stones, que vi actuar em Portugal a terceira vez comecei a lembrar-me do passado em Coimbra.
    Estaria eu satisfeito com a vida? Não, não estou e ela, provavelmente, acabará antes que eu atinja a satisfação que desejava.
    Reviver os verões quentes e suados com êxito, os outonos temperados pela esperança de um sucesso, os invernos frios, chuvosos e aconchegados, as primaveras das flores cheias de trabalho, com muitas páginas para ler e reler.
    Quando consegui o que queria saí de Coimbra.
    Antes disso muita discussão, muita conversa, muita cerveja, muito fumo, bom sexo e o alimentar de muitas ilusões.
    Não assisti à morte de Deus, referida por Friedrich Nietzsche, mas ao seu desaparecimento. Perdi a fé na metafísica.
    Perdida a fé, ficaram valores éticos fundamentais que mais jovem a ela associei.
    Deixei de ter esperança no Éden depois da vida e passei a lutar por uma vida terrena melhor, não pelo Paraíso na Terra, mas por uma vida o melhor possível para a Humanidade
    Como tantos outros, lutei esforçadamente e perdi. Perdi em quase toda a linha. A palavra quase significa uma pequena réstia de esperança numa Humanidade melhor.
    Do alto do Penedo da Saudade olhei mais uma vez Coimbra – confesso que vivi, confesso que lutei, confesso que perdi.
    O Campo de Concentração de Auschwitz está em ruínas. O Campo de Concentração de Guantánamo está na máxima pujança – anunciam-se para breve as primeiras execuções.
    Os presos, vestidos de vermelho, sofrem de joelhos uma tortura psicológica e física mais dolorosa que a que Hitler mandava fazer, por ser mais longa.
    Os já condenados à morte irão ser submetidos a uma farsa de julgamento, em que lhes serão concedidos menos direitos de defesa do que aqueles que Hitler concedia quando mandava fazer julgamentos. Esta nova barbárie, cheia de vigor, apresenta-se em nome da Civilização Ocidental a que pertenço, em nome da democracia. Lutei toda a vida pela democracia , pelo primado do Direito sobre a força, pela Declaração Universal dos Direitos do Homem. Confesso que vivi, confesso que lutei, confesso que perdi.

    Fernando Campos