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quinta-feira, novembro 08, 2007

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    O TÍTULO É NOSSO, o texto entre aspas é de Vítor Dias, in blog «O Tempo das Cerejas» . A imagem da vaca fica à imaginação de quem lê este site.



    A VACA


    «08-11-2007
    A lavandaria, a barbearia e a vaca

    E dura, dura, dura...




    Na sua crónica de hoje no Público, Helena Matos refere a certa altura que o Estado português «com a mesma iluminada certeza que o levou a nacionalizar lavandarias encerra agora postos da GNR em zonas do interior» [o sublinhado é meu].
    É claro que comparada com as grandes questões nacionais que estão ou deveriam estar em debate esta «gracinha» de Helena Matos talvez não merecesse um «post». Mas pensando que é com estas pequenas «gracinhas» que, às vezes, se vai reescrevendo a história e deseducando os cidadãos mais novos, talvez valha a pena dizer que esta referência a uma suposta nacionalização de lavandarias é a enésima repetição de clichés que nasceram quase ao mesmo tempo que as nacionalizações de 1975, portanto, há 32 anos.
    Com efeito, foram piadas recorrentemente lançadas contra as nacionalizações quer o facto de terem abrangido alguma lavandaria, uma barbearia e até havia quem falasse muito de um pobre vaca que, salvo erro na Madeira, pertencia a um dos grandes grupos económicos que foi nacionalizado. Como qualquer pessoa com dois dedos de testa deverá perceber ( e Helena Matos têm mais do que dois dedos de testa), o Estado nessa época não nacionalizou nenhuma lavandaria, nenhuma barbearia e nenhuma vaca mas sim o conjunto do património (à época nem sequer completamente identificado ou discriminado) dos grandes grupos económicos, além do mais porque a conjuntura e as circunstâncias históricas que rodearam essas nacionalizações de 1975 não consentiam tais preciosismos.
    Acresce que pode ter havido, como ocorreu em tantas outra empresas, alguma lavandaria «intervencionada» na sequência de conflitos entre trabalhadores e patrões e para assegurar a continuação da sua actividade, mas isso de nenhuma forma pode ser considerado uma nacionalização.
    Aliás é bom que saiba que, face a piadas do tipo que Helena Matos hoje resolveu repetir, os defensores das nacionalizações sempre responderam prontamente qualquer coisa do género «Ah sim? Pois então não temos nenhuma objecção a que trespassem ou vendam já a lavandaria e a barbearia e que comam a vaca».
    Tudo visto, só há duas conclusões a tirar: a primeira é que se alguém quer gozar com nacionalizações então goze com a última, ou seja aquela que, sob o comando de Pina Moura e António Guterres, atingiu o Autódromo do Estoril (e que, ao contrário do que é costume, os proprietários até agradeceram); a segunda é que nunca foram a lavandaria, a barbearia e a vaca que doeram às Helenas Matos dessa época (normalmente com nomes masculinos e mais «finos») mas sim o resto.»