CONVERSA FICCIONADA
A CONVERSA QUE SE SEGUE É DA NOSSA i RESPONSABILIDADE, e foi gravada em segredo numa outra cidade e num tempo de que ainda restam memórias, mas que já não se alcançam- a não ser num breve relâmpago de um simples fechar de pálpebras.
- O que é que foi?!!
- A X...
- E depois?
- Tás com carinha de cãozinho e sorriso parvo, como diz a Teresa Guilherme.
- Isso é completamente falso e tu não devias dizer que eu tenho cara de cão.
- É uma expressão que se utiliza para caracterizar os apaixonados. Mas não negues que há qualquer coisa, porque até combinaste sair com ela na semana passada para ir a Belém...
- Não há nada entre nós os dois, e só fui a Belém comer pastéis.
- Tá bem... tá! Pronto, eu fecho a boca. Mas continuo de olhos abertos.
- Pensares isso, ou estares desconfiada, faz com que não pareça que eu estou a agir normalmente. Só me apaixonei e amei uma vez na vida... Comprei-te uma prenda, mas só a vou dar no metro, se tu a mereceres, é claro.
- Então vou-me portar bem! Quanto a ela, foi isso que me ocorreu, porque parecia haver qualquer coisa entre vocês, e depois foi na outra quarta... ela andou a telefonar para saber o teu número... para saírem...
- Isso não tem mal nenhum! Se fosse um rapaz tu não estavas a pensar isso.
- Só estranhei, ocorreu-me. Mas talvez seja porque tu não és como os outros da turma e ela é sensata.
- Não percebo. Sou igual a qualquer outra pessoa. Por que é que ela, ou o que é que tem a ver... ela ser sensata?
- Esquece, já falámos sobre eles muito tempo. Tu és uma pessoa com quem se pode conversar e ela é uma pessoa que o sabe fazer. E se queres que te diga... eu começo-me a fartar de certas atitudes do P, por exemplo...
- Eu falo de igual para igual com todas as pessoas, mas sinto-me mais próximo de algumas. O que é que fez o P?
- Acreditas mesmo que as pessoas mudam? Eu acho que ele tá revestido de uma falsa modéstia. Assim como noto certa hostilidade dele em relação, por exemplo, a mim. Pensa que eu sou uma miúda parva, anda sempre com aquelas histórias de passar os dias a escrever e pensa que já é um mestre... Se calhar é de mim. Estou farta de presunçosos.
- Tu podes fazer a tua vida aqui, ou lá fora, sem te preocupares com o que ele ou as outras pessoas pensem ou digam de ti. Só devemos dar valor às pessoas de quem gostamos ou respeitamos. Se o que ele fala não te diz nada, também o que ele pensa sobre ti também não te deve dizer nada. Ele é, apesar de tudo, apenas mais uma pessoa e, por tal, não é mais nem menos do que quem quer que seja.
- Sim, eu sei... mas chateia-me.
- No caso do P só tens três hipóteses possíveis:
1- Ignoras,
2- Assumes o papel que ele te dá-o de miúda parva,
3- Entras em conflito directo.
MANUEL PEREIRA
- O que é que foi?!!
- A X...
- E depois?
- Tás com carinha de cãozinho e sorriso parvo, como diz a Teresa Guilherme.
- Isso é completamente falso e tu não devias dizer que eu tenho cara de cão.
- É uma expressão que se utiliza para caracterizar os apaixonados. Mas não negues que há qualquer coisa, porque até combinaste sair com ela na semana passada para ir a Belém...
- Não há nada entre nós os dois, e só fui a Belém comer pastéis.
- Tá bem... tá! Pronto, eu fecho a boca. Mas continuo de olhos abertos.
- Pensares isso, ou estares desconfiada, faz com que não pareça que eu estou a agir normalmente. Só me apaixonei e amei uma vez na vida... Comprei-te uma prenda, mas só a vou dar no metro, se tu a mereceres, é claro.
- Então vou-me portar bem! Quanto a ela, foi isso que me ocorreu, porque parecia haver qualquer coisa entre vocês, e depois foi na outra quarta... ela andou a telefonar para saber o teu número... para saírem...
- Isso não tem mal nenhum! Se fosse um rapaz tu não estavas a pensar isso.
- Só estranhei, ocorreu-me. Mas talvez seja porque tu não és como os outros da turma e ela é sensata.
- Não percebo. Sou igual a qualquer outra pessoa. Por que é que ela, ou o que é que tem a ver... ela ser sensata?
- Esquece, já falámos sobre eles muito tempo. Tu és uma pessoa com quem se pode conversar e ela é uma pessoa que o sabe fazer. E se queres que te diga... eu começo-me a fartar de certas atitudes do P, por exemplo...
- Eu falo de igual para igual com todas as pessoas, mas sinto-me mais próximo de algumas. O que é que fez o P?
- Acreditas mesmo que as pessoas mudam? Eu acho que ele tá revestido de uma falsa modéstia. Assim como noto certa hostilidade dele em relação, por exemplo, a mim. Pensa que eu sou uma miúda parva, anda sempre com aquelas histórias de passar os dias a escrever e pensa que já é um mestre... Se calhar é de mim. Estou farta de presunçosos.
- Tu podes fazer a tua vida aqui, ou lá fora, sem te preocupares com o que ele ou as outras pessoas pensem ou digam de ti. Só devemos dar valor às pessoas de quem gostamos ou respeitamos. Se o que ele fala não te diz nada, também o que ele pensa sobre ti também não te deve dizer nada. Ele é, apesar de tudo, apenas mais uma pessoa e, por tal, não é mais nem menos do que quem quer que seja.
- Sim, eu sei... mas chateia-me.
- No caso do P só tens três hipóteses possíveis:
1- Ignoras,
2- Assumes o papel que ele te dá-o de miúda parva,
3- Entras em conflito directo.
MANUEL PEREIRA