Manifesto Aplicado do Neo-Surrealismo Céu Cinzento O Abominável Livro das Neves

Anti-Direita Portuguesa

ESQUERDA NÃO PARTIDÁRIA

LIVRE-PENSADORA

quarta-feira, maio 19, 2004


  • CASO CASA PIA – PEDRO STRECHT É COMPLICADO
    ANTÓNIO LOBO ANTUNES É COMPLICADO
    ARIEL SHARON É COMPLICADO
    DONALD RUMSFELD É COMPLICADO
    G W BUSH É COMPLICADO
    TONY BLAIR É COMPLICADO
    PAUL BREMER É COMPLICADO
    LYNNDIE ENGLAND É COMPLICADA
    DURÃO BARROSO É COMPLICADO
    JOSÉ LAMEGO É COMPLICADO
    J. Silva


    A CURA
    Ditava o orientador, de postura solene, recta como a singeleza do correcto, as palavras finais aos seus discípulos, alunos de psiquiatria. Sairiam para o estágio de rua como enfermeiros, mas antes do momento final, ouviam as conclusões morais que concluíam o curso.
    - A Natureza, assim como fez luzes brilhantes, deu-nos defeitos horrorosos. Mas a nossa inteligência que para muitas coisas existe, não permite a fuga à nossa linha natural. Tudo o que foge a essa estrada única deverá ser corrigido. Eliminar o contacto do defeito com o puro, é tarefa. A Natureza forjou-nos com duas faces, e dessas nós escolhemos uma! – Todas as patologias estudadas e todos os comportamentos duvidosos tiniram nas mentes dos atentos jovens ao ouvir as sábias palavras. As veias dos braços quase entornavam o sangue pela pele; iluminados queriam acção, limpar as ruas da tristeza da doença – Tragam todos aqueles que fogem à estrada que a inteligência nos ensinou a distinguir. A normalidade!
    Saíram em alvoroço e debaixo do sol luminoso como as suas intenções, galgaram pelas ruas, num compacto grupo de dez, inspeccionando o que lhes era possível.
    Subitamente, um deles grita assustado
    - Meu deus! Olhem! – Os outros olharam para a direcção apontada e logo o espanto terrífico tomou-os, misturado com a pujança do querer executar a complicada missão. Deparavam-se com uma visão estonteante: dezenas e dezenas de pessoas corriam aos pulos, gritavam aleatoriamente, rebolavam no chão, falavam sozinhas, davam ordens a objectos, choravam, gargalhavam. Algumas, poucas sílabas conseguiam dizer. Guerreavam contra inimigos invisíveis, falavam por slogans, insultavam-se, batiam-se. Os dez jovens ainda tentaram lembrar-se do curso, mas ele estava ali tão grotescamente representado que interrogaram-se se era possível haver tantos doentes mentais juntos, em plena e perigosa liberdade de expressão.
    Precipitaram-se sobre aqueles que lhes foi possível. Embora esperneassem, berrassem e tentassem fugir, acabaram vencidos dentro de uma rede. Orgulhosos e suados, os alunos voltaram à escola para exibir ao mestre os rápidos resultados da primeira aula prática. E ele, surpreendido, disse
    - Seus tolos! Vocês raptaram crianças!
    VÍTOR MANUEL (estudante da Universidade de Coimbra)