POSTULADOS E MODUS OPERANDI, ou a mesma coisa de sempre quando se pretende fazer a mesma coisa de sempre
A ideia de fim da história, ou de estado último de desenvolvimento\destruição\aniquilação\evolução morreu, mesmo enquanto história, muito mais enquanto fim. Os neo-paradigmas são iguais a quaisquer outros produtos- têm prazo de validade, foram feitos para saírem das prateleiras e se tornarem obsoletos. Morre a ideia de fim. Mas nunca existiu uma ideia de um começo válido-nunca Adão e Eva, nunca mesmo os macacos em cima dos galhos.
- Quando é que saíste de cima da árvore?
- Quando te vi rastejar debaixo da pedra.
Tudo é consequência de qualquer coisa, embora muito também não o seja. A própria frase contradiz-se. As palavras nunca chegam nem alcançam nada.
Vive-se sobrevivendo ou só e apenas se existe numa era\época\situação\momento que passa e se acumula por cima do entulho de cada segundo\minuto\hora firmamento chutado da eternidade que passa, mas em que a ideia de um fim último de desenvolvimento morreu. Se bem que as ideias deterministas sejam na sua maioria inócuas, porque reduzem as pessoas a meros actores sociais, negando a lógica individual de cada um-porque tentam controlar e domesticar o que não tem controle-não deixa de ser verdade que uma certa ideia de começo também começou (o começo também se começa!?) a diluir aos poucos. A sociedade tornou-se o próprio reflexo do imediato e do tempo ausente. Esta é a era do nada em que os actos e as consequências deixaram de ter um significado de peso porque, gradualmente, aquilo que poderia ter um real interesse (sentimentos, emoções, altruísmo) passou a ser apenas um estado passageiro segundo a lógica de qualquer sociedade consumista. Traduz, na maior parte dos casos, uma adulteração do espaço do Eu em relação ao Outro. E hoje em dia parece que só existe o Eu, não quero nem saber do Outro, não estou nem aí para os problemas dos Outros. Ora, sendo Eu feito de uma soma de tudo o que me rodeia, de tudo o que imaginei e de tudo o que me foi imposto, de todos os outros... com a minha negação... o que é que existe? Apenas uma chacina da lógica identitária, de um contínuo recalcar de memórias e de tempo, apenas o fim da continuidade histórica, apenas dissertações vagas como esta. Apenas o reflexo do tempo ausente que passa. A mesma sede do imediato ou do programar a vida numa espécie de lógica andróide, apenas a masturbação em cadeia de egos em coro, mas afastados uns dos outros e a lutarem pelo mesmo espaço. Apenas a lógica individualista da vida aqui e agora, a mesma lógica que condena e condenará sempre o dia de amanhã e de todos os seus rebentos ao mais completo planeta de cinzas, ou só e apenas às cinzas mas sem planeta algum. A mesma vida que aniquila o passado, que o retrata conforme os seus próprios interesses, que hipoteca o futuro porque já se postulou que ele já nem sequer existe.
A vida do Homem de hoje mata a vida do Homem de amanhã. Apenas um holocausto, tão igual a tantos outros.
Hoje aprendo mais uma vez o que já sabia e que sempre soube. O meu lugar já não é aqui. Correcção: ele nunca foi.
Tempo de um poema...
“Sculptures, Maisons, Paysages”
Se necessário fosse preciso dizer o que é que eu diria?
As crias do meu silêncio na sombra verde o amanhã desperto
Cruza a fronteira! O fumo para além é sempre o mesmo
Max Ernst em Paris e a sua escultura em bronze
Ao seu gémeo arrancado ao gesso
Se fosse preciso dilacerar o peito o que arrancavas tu?
Astros mutilados, o teu campo de minas já não sem luz aguarda
E a sua biografia exposta na parede aos curiosos...
Curioso tapete vermelho quando o nosso muro pare os seus abortos no ventre
Padece aos nossos olhos o falo do chicote e a terra dá à luz os seus mestiços
Todos os movimentos morreram e a arte só de ontem descoberta
Já nem homens já nem ratos ilumina e na senda do
Homem-rato permanece o Rato-homem
Aguardo os holofotes no nosso campo de sementes
Híbridos sons aos nossos tímpanos, luz e água, terra e fogo e coca-cola
Sorris no teu carro em contramão e o teu preço já tem dono
Cruza a fronteira, esquece o passaporte, mas não te esqueças de me acordar bem cedo
Numa boîte em Paris qualquer coisa... qualquer coisa...
Regardez les jeunes-filles en mini-jupes!!!
E o Pato Donald e o Rato Mickey e o Pateta e a Clarabela
Mas repara que eu e tu e o aqui.. já nada dos três existe
Quando já nada te atrai o que é que pedes tu?
Qualquer coisa qualquer coisa numa boîte em Paris
Com limão ou não o vodka sabe sempre ao mesmo
Sabe sempre ao mesmo
Vodka
Claus Min (RIP-74\98)
RICARDO MARQUES (Mestrando em Sociologia)
- Quando é que saíste de cima da árvore?
- Quando te vi rastejar debaixo da pedra.
Tudo é consequência de qualquer coisa, embora muito também não o seja. A própria frase contradiz-se. As palavras nunca chegam nem alcançam nada.
Vive-se sobrevivendo ou só e apenas se existe numa era\época\situação\momento que passa e se acumula por cima do entulho de cada segundo\minuto\hora firmamento chutado da eternidade que passa, mas em que a ideia de um fim último de desenvolvimento morreu. Se bem que as ideias deterministas sejam na sua maioria inócuas, porque reduzem as pessoas a meros actores sociais, negando a lógica individual de cada um-porque tentam controlar e domesticar o que não tem controle-não deixa de ser verdade que uma certa ideia de começo também começou (o começo também se começa!?) a diluir aos poucos. A sociedade tornou-se o próprio reflexo do imediato e do tempo ausente. Esta é a era do nada em que os actos e as consequências deixaram de ter um significado de peso porque, gradualmente, aquilo que poderia ter um real interesse (sentimentos, emoções, altruísmo) passou a ser apenas um estado passageiro segundo a lógica de qualquer sociedade consumista. Traduz, na maior parte dos casos, uma adulteração do espaço do Eu em relação ao Outro. E hoje em dia parece que só existe o Eu, não quero nem saber do Outro, não estou nem aí para os problemas dos Outros. Ora, sendo Eu feito de uma soma de tudo o que me rodeia, de tudo o que imaginei e de tudo o que me foi imposto, de todos os outros... com a minha negação... o que é que existe? Apenas uma chacina da lógica identitária, de um contínuo recalcar de memórias e de tempo, apenas o fim da continuidade histórica, apenas dissertações vagas como esta. Apenas o reflexo do tempo ausente que passa. A mesma sede do imediato ou do programar a vida numa espécie de lógica andróide, apenas a masturbação em cadeia de egos em coro, mas afastados uns dos outros e a lutarem pelo mesmo espaço. Apenas a lógica individualista da vida aqui e agora, a mesma lógica que condena e condenará sempre o dia de amanhã e de todos os seus rebentos ao mais completo planeta de cinzas, ou só e apenas às cinzas mas sem planeta algum. A mesma vida que aniquila o passado, que o retrata conforme os seus próprios interesses, que hipoteca o futuro porque já se postulou que ele já nem sequer existe.
A vida do Homem de hoje mata a vida do Homem de amanhã. Apenas um holocausto, tão igual a tantos outros.
Hoje aprendo mais uma vez o que já sabia e que sempre soube. O meu lugar já não é aqui. Correcção: ele nunca foi.
Tempo de um poema...
“Sculptures, Maisons, Paysages”
Se necessário fosse preciso dizer o que é que eu diria?
As crias do meu silêncio na sombra verde o amanhã desperto
Cruza a fronteira! O fumo para além é sempre o mesmo
Max Ernst em Paris e a sua escultura em bronze
Ao seu gémeo arrancado ao gesso
Se fosse preciso dilacerar o peito o que arrancavas tu?
Astros mutilados, o teu campo de minas já não sem luz aguarda
E a sua biografia exposta na parede aos curiosos...
Curioso tapete vermelho quando o nosso muro pare os seus abortos no ventre
Padece aos nossos olhos o falo do chicote e a terra dá à luz os seus mestiços
Todos os movimentos morreram e a arte só de ontem descoberta
Já nem homens já nem ratos ilumina e na senda do
Homem-rato permanece o Rato-homem
Aguardo os holofotes no nosso campo de sementes
Híbridos sons aos nossos tímpanos, luz e água, terra e fogo e coca-cola
Sorris no teu carro em contramão e o teu preço já tem dono
Cruza a fronteira, esquece o passaporte, mas não te esqueças de me acordar bem cedo
Numa boîte em Paris qualquer coisa... qualquer coisa...
Regardez les jeunes-filles en mini-jupes!!!
E o Pato Donald e o Rato Mickey e o Pateta e a Clarabela
Mas repara que eu e tu e o aqui.. já nada dos três existe
Quando já nada te atrai o que é que pedes tu?
Qualquer coisa qualquer coisa numa boîte em Paris
Com limão ou não o vodka sabe sempre ao mesmo
Sabe sempre ao mesmo
Vodka
Claus Min (RIP-74\98)
RICARDO MARQUES (Mestrando em Sociologia)