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quarta-feira, setembro 22, 2004

  • REFLEXÃO DO REPÓRTER X SOBRE O CASO CASA PIA

    (Os erros ortográficos são da responsabilidade do Repórter X - na Internet não há tempo para revisões de textos! O texto entre aspas não sofreu nenhuma modificação é o original do Repórter X)
    «Primeira Página
    Os Jornalistas devem:
    Esclarecer e explicar a cobertura da notícia e estimular o debate público sobre a conduta jornalística.
    Encorajar o público a expressar discordâncias com a imprensa.
    Admitir erros e corrigi-los prontamente.
    Expor práticas anti-éticas de jornalistas e da imprensa em geral.
    Agir pelos mesmos altos padrões pelos quais julgam os outros.
    In Código de Ética da Sociedade dos Jornalistas Profissionais

    O Correio da ManhaÚltima actualização às 14:55, 1 de Setembro >>> Inserido artigo sobre Análise à testemunha João A.
    Convido o leitor a participiar numa análise da política editorial dos responsáveis do Correio da Manhã -- João Marcelino e Octávio Ribeiro -- relativamente ao processo da Casa Pia.
    Nota prévia: Os levantamentos que se seguem encontram-se por ordem cronológica (começar pelo fundo da página). Chamo a atenção dos leitores que o Correio da Manhã possui jornalistas sérios e competentes, que merecem todo o respeito e que nada têm a ver com estes artigos ou com a actual política editorial do CM, Devido ao tamanho destes documentos, é possível que levem alguns minutos a abrir.
    Para que os leitores possam analizar o que este jornal fez, preparei aqui dois levantamentos:
    1. Notícias publicadas pelo Correio da Manhã sobre a Casa Pia (2.100 notícias, entre 2002 e Agosto de 2004)
    2. Notícias publicadas pelo Correio da Manhã onde consta o nome de Ferro Rodrigues (mesmo período)

    Eis algumas considerações:
    1. É notória uma linha editorial hostil em relação a Ferro Rodrigues, contrastando com um certo «namoro» a Sócrates e até a António Costa.
    2. O Correio da Manhã nunca fez qualquer tipo de investigação jornalística sobre o caso da Casa Pia, limitando-se a «condenar» os arguidos do processo, com base em declarações nunca fundamentadas nem corroboradas. Não se vislumbra ter sido cumprido um mínimo de ética deontológica, nomeadamente procurando e exigindo o contraditório.
    3. É notório o clima de «histerismo» com que a direcção de João Marcelino e Octávio Ribeiro intentou (e conseguiu) contaminar os seus leitores, tal como é evidente a utilização de técnicas propagandísticas para pressionar os tribunais, no sentido de levar avante um clima propício à condenação dos arguidos.
    4. Violando grosseiramente o mínimo que se espera de um jornalismo isento e respeitável, a direcção do Correio da Manhã colou-se às teses do procurador João Guerra, transformando-se não só numa espécie de amplificador da histeria falaciosa, como -- mais grave ainda -- em delatores pró-activos numa acusação paralela, cruel, falseando factos e omitindo provas e dados aos seus leitores, como facilmente se constata ao cruzar a informação publicada com o conteúdo do processo, e ainda com a realidade dos factos.
    5. Na manchete publicada a 10 de Novembro de 2003 (Três Jovens Envolvem Ferro Rodrigues), cuja fonte foi sem qualquer dúvida o então director-geral da PJ, Adelino Salvado (como aqui se constata), o Correio da Manhã publica informações totalmente falsas.
    Nessa notícia, o jornal publica o seguinte:
    De acordo com a mesma fonte, Ferro sabe que há pelo menos três alegadas vítimas que o relacionam com a pedofilia. Disso mesmo terá sido informado quando prestou declarações, no dia 4 de Junho, no Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP), tendo-lhe sido dado conhecimento do teor dos depoimentos dessas testemunhas.
    Ora, basta ler o depoimento de Ferro Rodrigues no DIAP (4 de Junho de 2003) para constatar que isso é falso. Em nenhuma altura Ferro Rodrigues é informado que «há pelo menos três alegadas vítimas que o relacionam com a pedofilia», nem lhe foi «dado conhecimento do teor dos depoimentos dessas testemunhas».
    Por outro lado, e ao contrário do que Adelino Salvado afirmou em entrevista ao EXPRESSO, é falso que as suas afirmações ao jornalista Octávio Lopes tenham sido proferidas após ter tomado conhecimento dessas informações pela imprensa. Na verdade, nunca nenhum orgão de comunicação social envolvera Ferro Rodrigues em «factos» com «três jovens», pelo que se confirma assim que os jornalistas do Correio da Manhã tomaram as afirmações de Adelino Salvado como verdadeiras, não tendo sequer tentado obter uma confirmação sobre a veracidade das mesmas.
    Mais tarde, ao constatar-se que o teor da notícia era falso, a direcção do Correio da Manhã (João Marcelino e Octávio Ribeiro) não apresentou nenhum pedido de desculpas por ter enganado os seus leitores, e ofendido Ferro Rodrigues, não obstante estarem conscientes de que uma notícia dessas era bastante para destruir qualquer pessoa, tanto pessoal como profissionalmente, assim como a sua família.

    João A.
    Observe-se, com atenção, a evolução das notícias sobre um tal João A., 23 anos, ex-casapiano. É este indivíduo que acusou (caluniosamente) Ferro Rodrigues, Jaime Gama, Paulo Pedroso, etc.
    João A, apareceu pela mão de Adelino Granja, a quem assinou um documento acusando uma série de trabalhadores da Casa Pia de abusos sexuais. Por essa altura é apresentado ao Correio da Manhã, e os seus depoimentos começam a sofrer uma série de evoluções, apontando claramente para um processo de inquinação testemunhal.
    João A. avisou recentemente a Casa Pia que se preparava para deixar o país, rumo à Holanda, com o conhecimento da PJ.
    João A. é arguido em vários processos, movidos por Ferro Rodrigues e Paulo Pedroso.
    Pode ler aqui uma análise ao testemunho deste indivíduo

    Audiências
    Por detrás da «cruzada» anti-pedófila e respectiva falácia de fácil atração popular, existe o negócio editorial, e as consequentes promoções individuais (e monetárias) dos responsáveis editoriais.
    Uma análise mais cuidada aos levantamentos noticiosos do Correio da Manhã, permitir-nos-á ir mais longe na compreensão sobre outros motivos que conduziram à definição da estratégia editorial do jornal para o processo da Casa Pia. Eis três tópicos de reflexão, que exigem estudo:
    1. «O escândalo de pedofilia na Casa Pia colocou os espaços de informação no topo das audiências televisivas, destronando os habituais “reality shows” e novelas», lia-se no CM em 28 de Novembro de 2002.
    2. A estratégia do Correio da Manhã parece ter tido alguma linha coincidente com a da TVI, no sentido de formar uma espécie de alternativa à sinergia EXPRESSO/SIC (CM, 7 de Dezembro de 2002)
    3. Convém analizar, paralelamente, a performance das TV's sobre este caso.
    Uma análise mais completa, abrangendo outros media, poderá ser lida no livro que preparo sobre a investigação do caso Casa Pia, e que tenciono editar após o julgamento deste processo.»